segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Projeto: Desvio para o Azul na Etec Prof. Alcídio de Souza Prado - Orlândia

Arte - Desvio para o Azul na Etec Prof. Alcídio de Souza Prado (Orlândia) - Projeto executado em 04/04/2014.
Projeto que foi cadastro e pré-selecionado no XV Prêmio Arte na Escola Cidadã.

Sobre o Prêmio

O Prêmio Arte na Escola Cidadã é uma realização do Instituto Arte na Escola e do SESI, e tem por objetivo, identificar, reconhecer e divulgar projetos exemplares na área de Arte. É o único prêmio nacional destinado a professores de Arte e às escolas onde lecionam e desenvolvem projetos nas quatro linguagens artísticas: Artes Visuais, Dança, Música ou Teatro.




Segue o resumo do projeto:

DESVIO PARA O AZUL NA ETEC.

A instalação “Desvio para o azul na ETEC” aconteceu em sua segunda montagem, sendo que a primeira realizada no ano passado teve como temática a cor vermelha, porque foi inspirada na instalação de Cildo Meireles “Desvio para o Vermelho”, assim os alunos imergiram em um ambiente todo vermelho e experimentaram de modo intenso as sensações que esta cor desperta.

A obra “Desvio para o Vermelho” tem dupla potência de ação comunicativa, pois constitui um campo magnético de contaminação e transbordamento dos sentidos pelo vermelho. A leitura desta obra ocorre pela interação e imersão corpórea, por isso que a sua releitura precisa acontecer por meio de uma instalação, onde os alunos participaram de todo processo: estudo da ideia de Cildo Meireles para a criação da obra, discussão, adaptação e execução da proposta no ambiente escolar.

Logo na primeira semana do ano letivo, mostrei diversas obras, fiz uma investigação sobre os conhecimentos destes alunos e percebi uma dificuldade em fruir obras contemporâneas. Visto que os alunos não tinham um repertório cultural amplo, as expectativas de aprendizagens foram significativas, porque tudo que foi apresentado  é novo. Percebi desde o inicio uma vontade e ao mesmo tempo uma curiosidade em desvendar este universo contemporâneo.

Depois da primeira parte investigativa, mostrei por meio de slide a obra “Fonte” de Duchamp para permitir a reflexão sobre essa nova concepção de se pensar uma obra de arte. O lema de nossas discussões foi frisado e debatido: qualquer objeto aceito como arte torna-se artístico, para isso foi lido um texto que justifica o porque de um mictório ser considerado uma obra de arte. Em seguida, apresentei a obra “Desvio para o Vermelho”, permiti o diálogo sobre a leitura desta obra e lancei a proposta de realizar o conceito desta instalação no ambiente escolar. Motivei-os com a ideia mostrando fotos da instalação anterior e propus mudarmos a cor, no caso, para a azul, para que os alunos dos anos anteriores participassem da experiência de imergir em uma cor que a princípio trás sensações opostas ao vermelho.

Num segundo momento, solicitei que os alunos dos 1º anos entrevistassem os alunos dos 2º anos para que tivessem informações sobre as reações que a instalação “Desvio para o Vermelho” aflorou e assim terem parâmetros de comparação em relação a nova instalação.

Organizamos as ações e estipulamos um cronograma e conversamos sobre como faríamos para enriquecer o ambiente artístico e propiciar com mais intensidade essa imersão pelos sentidos por meio do azul.

Nestas discussões produtivas, os alunos quiseram encenar um duelo entre dois reinos que disputariam a posse pela cor azul.

Na manhã de sexta-feira praticamente todo o pátio da escola já estava coberto, músicas com a temática azul tocava, os alunos foram caracterizados, puxamos fitas azuis e enchemos bexigas por todo o pátio. O clima escolar naquela manhã já estava totalmente diferente. Cinco minutos antes do sinal do recreio a banda já tocava, todos os alunos dos outros anos desceram e curiosos aguardaram a performance, em seguida, em cada escada da escola, dois grupos de reinos se posicionavam, o primeiro reino desceu ao som do solo da guitarra, o segundo reino desceu ao som do solo da bateria, eles duelaram, a banda uniu-se e os dois reinos dominaram aquele espaço junto com toda a comunidade escolar que num ambiente totalmente calmo e aconchegante curtiu um rock and roll.

Todos os três primeiros anos do Ensino Médio trabalharam juntos. Para os alunos foi importante esta experiência de unir as turmas, eles perceberam que organizar e executar uma instalação desta dimensão precisa-se de integração e interesse por meio da participação ativa.

Depois de vivenciar a instalação os alunos postaram no portal da escola suas considerações sobre este projeto, algumas perguntas foram feitas para instigar as reflexões. Em paralelo com o projeto outras obras contemporâneas, tais como: “Beam Drop” de Cris Burden; “Embora” e “Metade da Fala no Chão” de Tatiana Blass, “Linda do Rosário” de Adriana Varejão foram apresentadas e por meio da análise de obras discutidas, os alunos escreveram suas percepções e principalmente o que aprenderam com a obra ao investiga-la/apreciá-la.

É importante que os alunos aprendam que há várias formas de ler uma obra de arte e que nem todas as obras levam a contemplação, ao contrário, um dos caminhos de percepção desta instalação são as reações físicas diversas e nem sempre agradáveis nas pessoas.

Já na conclusão do 1º Bimestre percebi uma mudança na fala dos alunos, da tradicional frase: “Vixi, que obra é essa?”para “que obra vamos estudar hoje, professora?”. Sempre que estudávamos uma obra eles sugeriram uma atividade prática, algumas vezes viáveis, outras não, porém a ideia do criar e do fazer artístico contextualizado sempre estava associado.

 Este projeto tornou-se importante para permitir que os alunos entendam que o universo artístico vai além do quadro ou da moldura, portanto o conceito de arte é bem mais amplo e pertinente à todos.

Os alunos dos 2º e 3º anos tiveram uma relação íntima com a instalação porque já haviam vivenciado-na  anteriormente. Então aqueles questionamentos muitas vezes preconceituosos sobre contemporaneidade, como por exemplo, “isso é arte?”, “pra que serve?” foram esquecidos para dar lugar a fruição. Isso demonstrou uma maturidade da relação que eles tinham com o ensino de Arte, eles perceberam que o fazer está ligado ao conhecimento, que produzir uma obra não é algo como somente buscar uma inspiração, como se essa inspiração acontecesse num passe de mágica, eles perceberam que o ensino de Arte e especialmente a contemporânea é algo possível de ser ensinado e que este território é tão amplo e enriquecedor que nos faz buscar interesse em outras áreas do conhecimento e não o contrário.

Informações e imagens cedidas/ autorizadas pela Unidade Escolar.

Rosângela Marques
Coordenadora Pedagógica
Etec Alcídio de Souza Prado - Orlândia



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